O Estudo de sinais de enfermidades encontrados nos fósseis,
múmias e outros objetos arqueológicos são conhecidos por Paleopatologia. O conhecimento obtido por estes estudos até o
momento é bastante fragmentado, porém nos permite cegar a conclusões
importantes. As lesões ósseas são as mais claramente expostas na peleopatologia:
Exostoses, sinais de artrites, traumas, tumores a malformações congênitas podem
ser observados em fosseis do homem que viveu no paleolítico. As múmias egípcias
com cerca de 4.000 anos são as fontes mais ricas para estes estudos. Estão bem
documentados lesões como tuberculose óssea (mal de Pott), mastoidites, doença
de Paget dos ossos e pé torto congênito. Nas partes moles e vísceras tem sido possível
identificar arteriosclerose, pneumonia, pleurites, cálculos renais, biliares,
além de apendicites e lesões cutâneas semelhantes as da varíola e
esquistossomose. Podemos inferir que as principais formas de enfermidades, não
cada doença em particular, têm sido no geral as mesmas ao longo de milhões de
anos.
Ao conjunto das crenças e práticas relacionadas á tentativa
consciente do homem de combater as enfermidades chama-se de medicina primitiva
e estudo dos vestígios destas ações médicas é chamado de Paleomedicina. Na falta de registros o estudo da medicina primitiva
manteve-se em conjecturas, as evidencias são escassas e duvidosas dificultando
a avaliação de como o homem do neolítico se tratava. Pesquisas de paleontologia
e antropologia apontam para uma medicina ligada a práticas mágicas e
sacerdotais, quanto ao emprego de drogas ou plantas medicinais é impossível
responder. Porém, a partir do estudo de esqueletos, é possível afirmar que as fraturas
foram reparadas por imobilizações, conservando o eixo dos ossos partidos ainda
que com cavalgamento dos fragmentos, demonstrando a ausência da tração necessária
para o alinhamento correto.
São ainda bastante intrigantes as trepanações. Por toda a
Europa encontra-se crânios trepanados datados do neolítico. Descartada a
hipóteses de lesões traumáticas, anomalias ou artefatos, persiste a dúvida
sobre seu real significado: Um procedimento terapêutico? Uma operação por
crenças no sobrenatural ou na magia, para dar saída a maus espíritos? – Observando
sociedades primitivas atuais que praticam o procedimento, a resposta não tem
ficado clara, pois o mesmo é praticado por uma ou outra razão.
O conhecimento desta medicina primitiva é obtido usualmente por
análises de restos humanos muito antigos com alterações não naturais, esculturas
e pinturas conservadas nos túmulos. E ainda por analogia com tribos atuais que
estão culturalmente na idade da pedra, povos ainda em condições primitivas,
porém não iguais aos próprios pré-históricos. Assim, os investigadores devem
ser cautelosos em suas conclusões.
O que parece essencial nestes povos quanto à medicina, é a
idéia da enfermidade como fenômeno sobrenatural por ação de demônios ou por
castigo devido a uma falta, cometida pelo enfermo. Só assim se explicava a
forma, geralmente brusca, de aparecer alterações dolorosas e limitantes em um
ser que havia permanecido saudável, forte e em bom estado. O diagnóstico e
tratamento eram em maior ou menor grau, conseqüentes a essa idéia da
enfermidade como fenômeno sobrenatural, Era feito com elementos
mágico-religiosos. Os primeiros praticantes da Medicina devem ter sido os feiticeiros-médicos
que somadas às palavras mágicas, preces e encantos usaram uma simbologia
especial para tratar seus pacientes. Algumas vezes por uma simples questão de
sorte e azar estes procedimentos tinham êxito e quando isto acontecia, os
homens encarregados de administrar medicina passavam à informação à seguinte
geração de curadores ou sacerdotes.
Estes homens ou mulheres especiais que exerceram as funções
de curadores, magos ou sacerdotes da medicina primitiva aprenderam a imobilizar
uma fratura óssea, também, realizaram freqüentemente um tipo de cirurgia que chamamos
trepanação (usando instrumentos de pedra) não se sabe ao certo se para espantar
espíritos demoníacos, tratar fraturas ou remover fragmentos de osso. É possível
que a trepanação fosse realizada em diferentes momentos por todas estas razões.
A Medicina Primitiva estava abalizada, do ponto de vista da
terapêutica, num fortíssimo componente psicológico baseado em crenças e ritos
mágicos, aliado ao emprego de plantas medicinais. De acordo com vários
antropólogos, o emprego de plantas e substâncias de origem animal para fins
curativos, data do Paleolítico ou idade da pedra lascada, o primeiro dos três
grandes períodos em que se subdivide a idade da pedra. O uso das ervas como
elementos curativos foi o inicio da medicina experimental e muitos medicamentos
contemporâneos como o quinino foram passados a nos a partir dos costumes de
nossos ancestrais pré- históricos.
Andrade, F J C ––
Teresina/PI
Bibliografia
MARGOTTA, R. História Ilustrada da Medicina.
São Paulo: Manole, 1998.
SOURNIA, J
C. História da Medicina. Tradução
de Jorge Domingues Nogueira. Porto Alegre: Instituto Piaget. 1992.