domingo, 9 de dezembro de 2012

REUMATOLOGIA NO PIAUÍ: FATOS E CRONOLOGIA

O passado não é o que passa, mas o que dele fica; o presente
é  efêmero: dele só fica o que se tornou passado.
(Tristão  de Athayde)
                                                   
 
    A Reumatologia, praticada com  feições de Especialidade caracterizada, é nova em nosso meio, como de resto no Brasil e no mundo.  Para contextualizar a História da Reumatologia no Piauí, é necessário descrever, ainda que de passagem, um cenário de referência nacional e internacional da Especialidade, o que certamente auxiliará o leitor na compreensão da narrativa de fatos, pessoas e lugares.
    Estamos agora em 1949, ano de ouro da Reumatologia Mundial e Brasileira. Comparece ao VII Congresso  da International  League Against Rheumatism, marcado indelevelmente pelo lançamento da cortisona, o Brasileiro Waldemar Bianchi. De retorno ao Brasil, após um gigantesco trabalho,  Bianchi  tornou possível  a fundação e instalação da  Sociedade Brasileira de Reumatologia a 15 de julho de 1949, tendo como Presidente Waldemar Berardinelli, como  Vice-Presidentes, Deolindo Couto, Magalhães Gomes e Pedro Nava e, estrategicamente, o próprio Bianchi como Secretário Geral.
    Ano de 1960. Geraldo Gomes de Freitas, como o apoio decidido de Hoel Sette, de quem Geraldo tornou-se Assistente, fundaram a Sociedade Pernambucana de Reumatologia, com reflexos para os Estados vizinhos do Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas e, como veremos mais tarde, para o Piauí. Esse fato confere aos dois Professores, a condição de Precursores da Reumatologia na Região Nordeste.
    A SOCIEDADE PIAUIENSE DE REUMATOLOGIA (SPR)  foi fundada em 27 de junho de 1972. Seus estatutos foram publicados no Diário Oficial do Estado do Piauí  no dia 7 de maio de 1975.
    São membros da Primeira Diretoria, também caracterizados como Sócios Fundadores por
participarem da organização social da Entidade, discussão dos estatutos e firmarem as atas de fundação da Sociedade os seguintes membros:
 
Presidente: Marcos Aurélio Rufino da Silva
Primeiro Vice-Presidente: Lineu da Costa Araújo
Segundo Vice-Presidente: Lívio William Sales Parente
Secretário: Miguel Ramos Rodrigues
Tesoureiro: Marcelino Martins
Segundo Tesoureiro: Luís Nódgi Nogueira Filho
 
    Figuram ainda como integrantes da Primeira Diretoria e também ditos como Sócios Fundadores Sérgio Ibiapina Ferreira Costa e Paulo Roberto dos Santos Caldas, sem cargos específicos , já que o artigo sétimo dos estatutos da Sociedade Piauiense de Reumatologia prevê apenas os cargos acima mencionados. É importante registrar que o Artigo 23 das disposições gerais desses estatutos prevê a outorga anual de um Prêmio intitulado “PEDRO NAVA”.
    A instalação oficial da Primeira Diretoria da Sociedade Piauiense de Reumatologia ocorre na Cidade de Teresina em 27 de junho de 1975, durante a I JORNADA PIAUIENSE  DE REUMATOLOGIA que ocorreu no período de  27 a 28 de junho de 1975, contando com a presença, na ocasião, de Geraldo Gomes de Freitas, então responsável pela Disciplina de Reumatologia  do Departamento de Clínica Médica  da Universidade Federal de Pernambuco.
    O Primeiro Presidente da Sociedade Piauiense de Reumatologia, Marcos Aurélio Rufino da Silva, é Piauiense nascido na Cidade de Oeiras, antiga Capital do Estado do Piauí. Graduou-se em Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco no ano de 1971. Nesse mesmo ano faz estágio em Reumatologia  na Cadeira de Terapêutica Clínica, sob a supervisão de Geraldo Gomes de Freitas. Em 1972, retorna ao Estado do Piauí, iniciando pioneiramente a prática da Especialidade no Estado. Obtém o Título de Especialista em Reumatologia pela Sociedade Brasileira de Reumatologia e inicia a estruturação da prática
e da divulgação da Especialidade no Estado, organizando aulas teóricas, reuniões científicas, ocasiões em que estiveram presentes eminentes Reumatologistas Brasileiros.
    Em 1976 , é aprovado em Concurso para o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS), passando a exercer a Especialidade naquele órgão, sendo, mais tarde, o seu superintendente no Estado do Piauí. Marco Aurélio retorna ao cargo de Presidente da SPR em 1991, ocupando mandato provisório na reorganização e retomada das atividades da agremiação. Possuidor de bom relacionamento pessoal e profissional, militante ativo na atividade associativa e de representação de classe, Marcos Aurélio participa efetivamente da vida das Entidades Médicas no Estado, exercendo, dentre outros, os cargos de Presidente da Associação Piauiense de Medicina (APM) e, a Presidência do Conselho Regional de Medicina (CRM). Assim, Marcos Aurélio abre as portas do Piauí para a nova especialidade ligada às enfermidades do aparelho locomotor, prima-irmã da Ortopedia, da Fisiatria e da Imunologia.
    O segundo Reumatologista do Piauí é Paulo Roberto dos Santos Caldas, integrante da Primeira Diretoria  da Sociedade Piauiense de Reumatologia  e também um dos seus sócios fundadores. Paulo Caldas nasceu em Belém do Pará aos dezoito dias de setembro de 1946, onde fez seus estudos de Primário. Muda-se para Teresina onde cursa parte do Ginásio no Colégio Leão XIII e, de volta à Belém, termina lá o Curso Ginasial. Em 1964 retorna à Teresina cursando o Científico no Liceu Piauiense Zacarias de Góes, concluindo-o na Cidade do Recife-PE. Paulo Caldas ingressa, então, para o Curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco, graduando-se em 1973. A formação específica em Reumatologia de Paulo Caldas tem lugar na Cidade do Rio de Janeiro, no tradicional Hospital Gafrèe-Guinle, sob a orientação da figura vetusta de Jacques Houli. Retorna, daí, para Teresina, exercendo Clínica Médica e Reumatologia em instituições públicas, entre elas o Ambulatório e Enfermaria do Hospital Getúlio Vargas e a Ação  Social Arquidiocesana (ASA). Atualmente é médico do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), órgão em que ingressou em 1980, já que possuía especialização em Medicina do Trabalho.
    Não pode deixar de ser registrado que Sérgio Ibiapina Ferreira Costa, já à época da fundação da SPR, mesmo como Clínico Geral, desempenhava-se com especial  desembaraço nos casos reumatológicos. Clínico talentoso, perspicaz e estudioso, Ibiapina havia concluído Residência Médica no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, recebendo a influência da atmosfera de entusiamo pela Reumatologia que se respirava naquela Instituição, capitaneada pelo brilhante Reumatologista Luiz Vertzman. A partir daí, Reumatologistas com formação oriunda dos mais diversos Serviços do país, iniciaram a militância na especialidade.
 
Abaixo - nome, data em que iniciou a prática da Especialidade no Estado e Formação -
Olimar Amorim Leite- 1975 (Universidade Federal da Paraíba-Silvino Chaves Neto)
Ewaldo Benício Soares de Oliveira- 1977 (Geriatria -PUC-RS)
Francisco Soares Loureiro- 1979 (Hospital Geral de Bomsucesso- RJ- Geraldo Castelar Pinheiro)
José Salomão Budaruíche- 1980 (Belo Horizonte- Aquiles de Almeida Cruz Filho)
Maria do Socorro Teixeira Moreira Almeida- 1980 (Brasília-DF)
Gilberto Almeida Hidd- 1986(Policlínica Geral do Rio de Janeiro- Hilton Sêda)
José Tupinambá  Sousa Vasconcelos- 1989 (Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo-William Habib Chahade)
Mário Sérgio Ferreira Santos- 1990 (Serviço de Reumatologia  do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo)
Mauro Furtado Cavalcanti –1993 (Hospital de Base do Distrito Federal)
Ana Lívia Attem- 1994 (Hospital Getúlio Vargas- Teresina-PI)
Roberta Oriana Assunção Lopes de Sousa- 1998 (Endografos e Instituto da Criança – USP)
 
Olimar Amorim Leite é Piauiense nascido na Cidade de Teresina a vinte e sete de fevereiro de 1948. Faz seus estudos primário e secundário no Colégio Demóstenes Avelino. Em 1968 é aprovado para o Curso de Medicina da Universidade Federal da Paraíba que conclui no ano de 1973. Durante a graduação, no período de 1971-1973, estagia voluntariamente na área de Reumatologia sob a supervisão do Reumatologista Paraibano Silvino Chaves Neto. Em 1974, retorna ao Piauí para dirigir a Unidade Mista da Fundação Nacional de Saúde  na Cidade de Esperantina, onde permanece até o início de 1975. Nesse mesmo ano, transfere-se para Teresina e inicia a prática da Reumatologia. Foi Diretor da Unidade Mista da Fundação Municipal de Saúde no Bairro Primavera, em Teresina e é atual  Diretor Estadual  do Departamento de Controle , Avaliação e Auditoria do SUS-PI  Olimar traz em sua formação um forte traço no gosto pela Reumatologia extra-articular. Oriundo do Serviço de Silvino Chaves, que também era Fisiatra, é o único Reumatologista Piauiense com Título de Especialista em Fisiatria.
Francisco Soares Loureiro é Piauiense de Teresina, nascido a quatro de agosto de 1948. Faz seus estudos primários no Grupo Escolar Engenheiro Sampaio e o Ginásio no Liceu Piauiense Zacarias de Góes. Conclui o Científico no Colégio Estadual da Bahia, para onde se transfere em 1967. Cursa o primeiro ano do Curso Médico na Universidade Federal de Pernambuco e o segundo e terceiro anos na Faculdade de Barbacena, em Minas gerais. O quarto e quinto ano cursa na Fundação Municipal da Serra dos Órgãos, em Teresópolis. O internato, sexto ano, o faz no Hospital Geral de Bonsucesso, na Cidade do Rio de Janeiro, graduando-se em 1976. Em 1977 e 1978, faz formação em Reumatologia no Hospital Geral de Bonsucesso, sob a supervisão de Geraldo Castelar Pinheiro e Newton Fernando Coimbra. Retorna à Teresina em 1979. Atualmente é Reumatologista do Hospital Santa Maria, da Fundação Municipal de Saúde, lotado no Centro Integrado Lineu Araújo e do Ambulatório do HGV, além de Clínica Privada.


Evaldo Benício Soares de Oliveira, nasceu em Teresina-PI em 25 de março de 1948. Realizou seus estudos primários no Colégio Batista Afonso Mafrense e concluiu o Curso Ginasial no Colégio Diocesano. Muda-se para Fortaleza, sendo interno do Colégio Cearense e concluindo o Científico no Colégio Castelo Branco, na Capital cearense. Muda-se, mais uma vez, agora para o Estado de Pernambuco e cursa Medicina na Universidade Federal daquele Estado, graduando-se em dezembro de 1977. Retorna, então, à Teresina e no período de 1978 a 1980 e atua como Clínico e Reumatologista, já que no quinto ano do Curso Médico fora Monitor de Reumatologia, fazendo estágio optativo nessa disciplina no sexto ano, sempre sob a supervisão do Reumatologista Pernambucano Prof. Geraldo Gomes de Freitas. De julho de 1980 a janeiro de 1981, faz Curso de Especialização em Geriatria na Pontifícia  Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), retornando à Teresina em  fevereiro de  1981. Evaldo Benício, agora Geriatra, nunca abandonou o gosto pela Reumatologia, sempre militando na Especialidade.
José Salomão Budaruíche, nasceu em Teresina-PI aos vinte e sete dias de junho de 1955. Realizou na Escola Modelo Artur Pedreira o seu Curso Primário. No Colégio Diocesano, cursou o Ginásio e o  Científico, concluindo essa fase de seus estudos em 1972. No ano de 1973 ingressa no Curso de Medicina da Universidade Federal do Piauí, graduando-se em 1978. Faz Especialização em Reumatologia em Belo Horizonte, orientado por Aquiles de Almeida Cruz Filho, Maranhense de Caxias, com formação na Reumatologia européia (Alemanha). Em 1980 ingressa como Professor da Universidade Federal do Piauí. No período de 1991 a 1995, passa a ser Coordenador do Curso de Medicina. Budaruíche, no exercício de Professor de Medicina, sempre o fez com especial dedicação e zelo. Os ecos à esse comportamento ouve-se nas inúmeras homenagens que recebeu  de quase todos os formandos de Medicina da UFPI, ministrando, inclusive,  a Aula da Saudade dos formandos de 1986. Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Clínica Geral do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Piauí e Preceptor de Residência Médica em Clínica Médica dessa Universidade, exibindo  predileção pelo estudo das Doenças Difusas do Tecido Conjuntivo.

A Professora Maria do Socorro Teixeira Moreira Almeida, juntamente com Salomão Budaruíche, representam a Reumatologia na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Socorro nasceu em Teresina a quatorze de julho de 1951. Faz os estudos primários  no Educandário Santa Teresinha, transferindo-se para o Colégio Sagrado Coração de Jesus (Colégio das Irmãs), onde termina seus estudos de Ginasial e Científico. Aprovada para o Curso de Medicina da UFPI em 1971, gradua-se em 1976. Transfere-se para Brasília, onde cumpre dois anos de Residência em Clínica Médica no Hospital Regional do Gama. Faz opção de um terceiro ano de especialização em Reumatologia, também no Distrito Federal. Retorna ao Piauí, assumindo, ao lado de Budaruíche, a parte de Reumatologia da Disciplina de Clínica Integrada do Sistema Osteoarticular em 01/03/80. É Coordenadora da Disciplina de Iniciação ao Exame Clínico desde maio de 1996 e Chefe do Serviço de Clínica Médica do Hospital Getúlio Vargas (HGV) desde julho de 1977. Vale registrar a criação por Socorro e Budaruíche  de um terceiro ano opcional em Reumatologia na Residência de Clínica Médica da UFPI em 1994, representando um esforço pioneiro na formação de Especialistas em Reumatologia no Estado do Piauí.
Com clara predileção pelas afecções extra-articulares do aparelho locomotor, Gilberto Almeida Hidd é, antes de tudo, uma personalidade afável e uma convivência amena.Teresinense do Barrocão, contemporâneo de Torquato Neto, Gilberto Hidd nasce a vinte e sete de fevereiro de 1946.Fez seus estudos Primário e Ginasial no Ginásio Leão XIII e conclui, em 1967, o Curso Científico no Liceu Piauiense Zacarias de Góes. Em Janeiro de 1968, transfere-se para a Cidade do Recife-PE , matriculando-se no Curso Pré-vestibular nesse mesmo ano. Em março de 1969, ingressa no Curso de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, graduando-se em 1974. Em Dezembro desse ano, muda-se novamente, desta vez para o Rio de Janeiro. Em Janeiro de 1975, ingressa no Curso de Pós-graduação em Reumatologia da Policlínica Geral do Rio de Janeiro , permanecendo nesse programa de treinamento  até 1976. A partir de 1977, é admitido como Médico da Policlínica Geral do Rio de Janeiro e como auxiliar no Curso de Pós-graduação em Reumatologia daquela Instituição, assim permanecendo até 1980. A partir desse ano, passa a Professor Assistente do Curso acima mencionado, onde permanece até maio de 1986. Gilberto Hidd toma uma decisão: Quer voltar a viver no Piauí! Gilberto retorna para Teresina em junho de 1986, já como Reumatologista experiente, oriundo que era da Policlínica Geral do Rio de Janeiro , onde trabalhou sob a supervisào do grande Reumatologista Hilton Seda, por quem dedica especial estima e admiração. Aqui, trabalha na Especialidade e como Clínico (Consultório particular, Unidade de Terapia Intensiva e Unidade VII do HGV). Na convivência com Gilberto, pudemos testemunhar por incontáveis vezes, seu zelo para com as pessoas simples e com os doentes pobres no HGV. Aprendemos com Gilberto, que tão importante quanto saber qual é a doença que tem a pessoa, é saber qual é pessoa que tem a doença.
Como autor desse Capítulo, tenho me expressado sobre terceiros, narrando informações garimpadas. Agora, porém, refiro-me à dados pessoais, que justifica a riqueza de detalhes e a extensão do texto que escrevo em terceira pessoa. José Tupinambá Sousa Vasconcelos, nasceu em Sobral-Ce à nove de setembro de 1960. Conclui, naquela cidade, o Curso Primário na Escola São Francisco de Assis em 1970, Curso Ginasial no Colégio Estadual Dom José Tupinambá da Frota em 1974 e o Curso Científico no Colégio Sobralense, em 1977. Em 1978, migra para Teresina, em virtude de aprovação no Curso de Medicina da UFPI naquele ano. Gradua-se em 1984, passando pelas Monitorias de Anatomia, Fisiologia e Farmacologia, além do Curso de Fisiologia Humana, na Cidade de Ribeirão Preto, no verão de 1981. Durante a Graduação, foi Professor da Disciplina de Biologia de vários Colégios e Cursos pré-vestibulares de Teresina. Em 1985 é aprovado em vários concursos de Residência Médica no Estado de São Paulo, decidindo-se por Clínica Médica na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Em 1986 é aprovado para a Residência de Reumatologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE-FMO), Serviço do Prof. William Habib Chahade, havido à época, como um dos melhores do País, concluindo em 1989. Como Médico Residente de segundo ano é aprovado no Concurso de Título de Especialista em Reumatologia da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR-AMB) e eleito Presidente da  Associação de Médicos Residentes do Instituto de Assistência Médica do Estado de São Paulo (Agosto/86 a Agosto/87). Ainda como Médico Residente de terceiro ano, faz parte da Diretoria da Sociedade Paulista de Reumatologia como Editor do Jornal Artrófilo, boletim de comunicação científica dessa sociedade. No ano de 1988 até maio de 1989 faz Estágio no Serviços de Eletroneuromiografia do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo e Hospital Heliópolis, ambos chefiados por Dr. Pedro Tannous e no Serviço de Neurofisiologia Clínica do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, chefiado por José Luís Alonso Nieto. Retorna à Teresina em maio de 1989. Participa de Concursos Públicos para Clínica Médica e Reumatologia, aprovado na maioria em primeira colocação. Em 1992 é eleito Presidente  da Liga dos Reumatologistas do Norte e Nordeste para o período 1992-1994,  presidindo o II Encontro da Liga dos Reumatologistas do Norte e Nordeste, realizado em Teresina em junho de 1992 e ainda nesse ano  recebe o título de Sócio Honorário Fundador da Sociedade Amazonense de Reumatologia. É convidado a fazer parte da Comissão Científica do XIX Congresso Brasileiro de Reumatologia (Brasília-1992) e da Banca Examinadora do Concurso de Título de Especialista da SBR em 1996. Faz parte das Comissões Científicas do XXII Congresso Brasileiro de Reumatologia (Fortaleza-1998), VII Congresso Internacional de Reumatologia do Cone Sul (Gramado-1999). Participou ativamente da formação de graduandos de Medicina como Médico do Serviço de Pronto Socorro, da Unidade  de Terapia Intensiva e da Unidade VII do HGV, inclusive sendo Paraninfo e emprestando seu nome à Turmas de Formandos da UFPI. Conferencista, autor de artigos científicos e monografias, entre outros o Manual Didático Osteoporose: Conhecendo, Prevenindo, Tratando, Convivendo, de grande aceitação popular, inclusive servindo de modelo para o material educativo em Osteoporose do Ministério da Saúde, órgão em que é Consultor  Regional no Departamento de Doenças Crônico-degenerativas. Em 1999, toma posse como Primeiro Presidente da Sociedade de Osteoporose do Piauí.
 
Mário Sérgio Ferreira Santos é Maranhense, nascido em Lago da Pedra a quatorze de dezembro de 1959. Concluiu o Primeiro Grau no Ginásio Bandeirantes em Lago da Pedra e o Segundo Grau, na Unidade Escolar O Cursão em 1977, em Teresina. É aprovado para o Vestibular de Odontologia da UFPI em 1978, mas presta novamente exame para Medicina, sendo aprovado em 1980. Gradua-se no ano de 1984, quando se transfere para a Cidade de São Paulo. Em 1985 é selecionado para a Residência de Clínica Médica do  INAMPS-SP, concluindo esse programa em  1986 .  Candidata-se em 1987  para a Residência de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), obtendo aprovação e concluindo em 1988.Transfere-se, então , para a Cidade de São Luís do Maranhão, em breve passagem (Março a Junho de 1989), onde chegou a atuar extra-oficialmente na Faculdade de Medicina  local. Em 1990, Mário Sérgio retorna à Teresina à convite de José Tupinambá, iniciando uma vitoriosa carreira profissional no Estado do Piauí. Ancorado na sua formação de Clínica Médica, trabalha também como Clínico em Ambulatório, Serviço de Pronto Socorro e Unidade de Terapia Intensiva. Em 1993, faz Estágio Voluntário no Serviço de Eletroneuromiografia particular de Antonio Luís Perucci Cattai, veterano Fisiatra e Eletroneuromiografista Paulista e inicia a prática do método no mesmo ano. sendo o segundo  médico a atuar na área no Piauí. Estudioso, responsável e devotado à educação médica continuada, Mário Sergio ocupa definitivamente seu lugar na Medicina Piauiense. Em jundo de 1999 (Manaus) é aprovado no Exame de Título de Espedialista da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Em Janeiro de 1993 chega ao Piauí o Reumatologista Mauro Furtado Cavalcanti, ingressando no Exército como Segundo Tenente Médico, função que exerceria até Janeiro de 1994. Concluíra a formação de Reumatologia em 1992 no Hospital de Base do Distrito Federal, à época chefiado pela Reumatologista Pernambucana radicada em Brasília Lúcia Gonçalves Macedo e, nesse mesmo ano, é aprovado no Concurso de Título de Especialista em Reumatologia da SBR. Mauro é Piauiense de Teresina, nascido em vinte e nove de dezembro de 1963. Residiu na Capital Piauiense até os cinco anos de idade, quando se transfere para a Cidade do Rio de Janeiro, onde lá permaneceria até a idade de dez anos e lá fazendo, portanto, os anos iniciais de seus estudos primários. Quando retorna à Teresina, ingressa no Colégio Diocesano na Quarta Série, permanecendo no Colégio dos Jesuítas  até  à conclusão do Curso científico em 1981. Aprovado para o Vestibular de Medicina da UFPI entre os vinte primeiros colocados em 1982, Mauro coleciona uma série de aprovações em vestibulares e concursos, sempre em distinta colocação. Em fevereiro de 1988, conclui o Curso Médico e, nesse mesmo ano, ingressa na Residência de Clínica Médica no HGV, encerrando esse programa em 1990, ano em que também seria aprovado para a Residência Médica em Reumatologia já mencionada. Mauro Furtado Cavalcanti chegou a trabalhar como Clínico na Fundação Hospitalar do Distrito Federal (aprovado em primeiro lugar) e na Empresa de Correios e Telégrafos por um ano. Atualmente é Membro do Conselho Científico da Sociedade de Osteoporose do Piauí e em 13 de Setembro de 1999, foi eleito Presidente da Sociedade Piauiense de Reumatologia para o Biênio 1999-2001. Bom internista, inclusive com trânsito na Medicina de pacientes gravemente enfermos, com zelo por fazer bem feito, Mauro Furtado Cavalcanti contribui para a reputação da Especialidade no Estado. 
Ana Lívia Atem nasceu a quatorze de fevereiro de 1966 na Cidade de Floriano-PI. Cumpriu o Curso primário e secundário no Colégio Industrial São Francisco de Assis daquela Cidade.  Em 1981, muda-se para Fortaleza e vive na Capital Alencarina até 1984. Em 1985 é aprovada para o Curso de Medicina da UFPI, concluindo-o em 1991. Em maio desse mesmo ano, ingressa na Residência de Clínica Médica do HGV. Decide-se pela Reumatologia, cumprindo um terceiro ano de Residência nessa Especialidade (1994). Dessa forma, Ana Lívia ingressa na História da Reumatologia do Piauí como a primeira  Reumatologista formada em programa oficial da Especialidade no Estado.
Roberta Oriana Assunção Lopes de Sousa, nasceu em Piripiri-PI a três de setembro de 1964. Fez seus estudos primários naquela cidade e conclui o Científico na Unidade Escolar O Cursão, em Teresina. É aprovada para o Curso de Medicina da UFPI, graduando-se em 1988. De bom raciocínio clínico, é convidada pelo Reumatologista José Tupinambá para iniciar treinamento em Reumatologia Pediátrica na Clínica Endografos e no Ambulatório de Reumatologia Pediátrica  do Hospital Infantil Lucídio Portela (HILP). Tendo acompanhado a discussão de casos de doenças do sistema nervoso periférico e a realização de eletroneuromiografias no Serviço de José Tupinambá, Roberta ganha especial desembaraço nessa área da Reumatologia. A partir de um Estágio no Serviço de Reumatologia Pediátrica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), Serviço da Profa. Maria Helena Kiss, Roberta inicia uma sequência de estágios e treinamentos no mencionado Serviço. Esses estágios conferem-lhe maior familiaridade nas doenças difusas do tecido conjuntivo de maior complexidade e nas enfermidades reumatológicas de ocorrência mais rara. Atualmente, Roberta divide com a Profa. Catarina Pires o ambulatório de Reumatologia do HILP e em clínica privada caracterizando a subespecialidade em nosso meio.
 
Sobre a Reumatologia Pediátrica é necessário fazer alguns registros. A Profa. Catarina Pires, Professora de Pediatria da UFPI, manifesta clara predileção pelas doenças reumáticas da infância, atendendo pacientes reumáticos na enfermaria do HILP e, inclusive, freqüentando atividades científicas da Reumatologia local. Atualmente, Catarina milita no Ambulatório de Reumatologia Pediátrica do HILP, juntamente com Roberta Oriana, como já foi acima mencionado. Fato que não pode deixar de ser registrado por motivo de rigor histórico, é a atuação da Profa. Teresinha Fortes no ensino e na assistência ao pequeno paciente com enfermidade reumática na Enfermaria do HILP. Quando aqui chegamos como Reumatologista em 1989, chamou-nos à atenção o especial desembaraço com que a referida  Pediatra se havia frente aos casos reumatológicos. Fazendo-lhe justiça, Teresinha deve ser considerada como um dos médicos que deu destaque às doenças reumáticas da infância em nosso meio.
 
Exerceram o cargo de Presidente da Sociedade Piauiense de Reumatologia:
Marcos Aurélio Rufino da Silva (1o mandato inaugural)
Marcos Aurélio Rufino da Silva (2o mandato tampão- reorganização da Entidade)
Gilberto Almeida Hidd
Olimar Amorim Leite
Mauro Furtado Cavalcanti
  
Em 24 de setembro de 1997, no Rio Poty Hotel, ocorreu a Reunião Inaugural da Sociedade de Osteoporose do Piauí (SOPI). Trata-se de agremiação multidisciplinar de médicos que se relacionam ao estudo da Osteoporose. A I Diretoria da SOPI ficou assim composta:
Presidente: José Tupinambá Sousa Vasconcelos (Reumatologia)
Vice-Presidente: Pedro Ursulino M. Coimbra (Ortopedia)
Secretário Geral: Elisa Rosa de C. G. Nunes Galvão (Ginecologia)
Primeiro Secretário: Manoel Aderson Soares (Endocrinologia)
Segundo Secretário: Lavínia Castelo Branco C. de Aragão (Geriatria)
Tesoureiro Geral: Gilberto almeida Hidd (Reuamtologia)
Primeiro Tesoureiro: Kátia Marabuco de Sousa (Ginecologia)
Representante na APM : Maria Castelo Branco R. de Deus (Ginecologia)
Editor do Boletim:Roberta Oriana Assunção Lopes de Sousa (Reuamtologia Pediátrica)
Conselho Científico: Antônio Fortes de Pádua Filho (Ginecologia)
                                   Leônidas Otávio Melo (Ginecologia)
                                   Mauro Furtado Cavalcanti (Reumatologia)
 
Mencionamos ainda, dois fatos que, à nossa ótica, merecem relevo. A introdução da Eletroneuromiografia  no Estado do Piauí, realizada de forma pioneira pelo Reumatologista José Tupinambá Sousa Vasconcelos, o que motivou significante  avanço no diagnóstico das Doenças Neuromusculares no Estado e na região, abrindo uma fronteira nova de possibilidade de atuação do Reumatologista, reconhecida na Mesa Redonda “Procedimentos em Reumatologia” do VII CONGRESSO INTERNACIONAL  DE REUMATOLOGIA DO CONE SUL. O segundo fato refere-se ao início da prática da Reumatologia Pediátrica como subespecialidade por Roberta Oriana Assunção Lopes de Sousa.
Dos inúmeros eventos da História da Reumatologia Piauiense, sublinhamos o II ENCONTRO DA LIGA DOS REUMATOLOGISTAS DO NORTE E NORDESTE (LIRNNE), realizada no período de 11 a 13 de junho de 1992 no Centro de Convenções de Teresina. O Encontro foi presidido por José Tupinambá Sousa Vasconcelos, então Presidente da LIRNNE, tendo como Presidente Executivo Gilberto Almeida Hidd. O Tema Oficial do Encontro foi “Manifestações Reumatológicas das Doenças Sistêmicas”. Esse evento reveste-se de importância que transcende ao umbral científico, pois ofereceu estofo para a reorganização societária da vida da SPR, então inativa.
Um outro evento muito importante da vida científica da SPR foi  o I ENCONTRO  CEARÁ –PIAUÍ DE REUMATOLOGIA que aconteceu associado ao III TEMATRAUMA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA-CEARÁ no período de 05 a 07 de Novembro de 1999,  no Itacaranha Hotel de Serra. Comitivas com Reumatologistas, Ortopedistas, Clínicos, Fisioterapeutas e seus familiares partiram de Teresina e Fortaleza, para encontrarem-se na Serra da Meruoca, próximo à Cidade de Sobral-CE. A comitiva piauiense foi comandada pelo então Presidente da SPR Mauro Furtado Cavalcanti e o grupo Cearense pelo Presidente da Sociedade Cearense de Reumatologia José Eduardo Gonçalves.  Presentes ao referido encontro representando o Estado do Piauí, Mauro Cavalcanti, Mário Sérgio, José Tupinambá ,  Socorro Moreira, Ana Lívia e a Residente de Reumatologia Ângela Freitas. Também presentes ao evento como especialistas afins, Benjamim Pessoa Vale (Neurocirurgião) e José Augusto Sá (Ortopedista). Na Programação Científica, foram abordados os Temas Síndrome do Túnel do Carpo (José Tupinambá), RS3PE (Mauro Furtado) e Doença Reumatóide de difícil controle: caracterização e manejo (Mário Sérgio).
Atualmente, a Reumatologia Piauiense conta com treze Especialistas e constitui-se, certamente, um dos mais  representativos segmentos da nossa Medicina.

 Vasconcelos, J T S  ––  Teresina/PI
 

 


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

HISTÓRIA DO PRONTO SOCORRO DO HOSPITAL GETÚLIO VARGAS


Durante muito tempo o atendimento hospitalar do Piauí era feito pela Santa Casa de Misericórdia, mas mesmo com a boa vontade de todos o fazia de forma precária.

            A situação começou a mudar no governo Leônidas Melo, interventor do estado no Governo Getúlio Vargas, médico hábil, procurou melhorar o atendimento no Estado com a criação de postos de saúde e a instituição de uma Medicina profilática. Assim sonhou construir um hospital moderno e com capacidade de atendimento não apenas para os doentes do Piauí, mas para os do Nordeste ocidental.

            Com a inauguração do Hospital Getúlio Vargas, em 1941, outro tempo surgiu para a Medicina do Piauí. È inegável a extraordinária importância do HGV na melhoria do nível profissional da medicina piauiense e na expansão do atendimento. As perspectivas da fundação se concretizariam, o HGV (principalmente o SPS) tornou-se um importante centro de atendimento, recebendo pacientes de estados próximos e do interior do Piauí.

         O pronto socorro do Hospital Getúlio Vargas, por vezes muito criticado pela sociedade e pela mídia, teve e tem uma grande importância no cenário da saúde piauiense. Por muito tempo o único pronto socorro do estado. Durante todos esses anos atendeu a todos que dele precisaram. O Trabalho abnegado dos médicos e funcionários fizeram do SPS-HGV referência para o Estado do Piauí, Maranhão, Pará e Tocantins. Muitas vezes, em condições adversas, atendendo pacientes graves com os mais variados problemas, de apendicites a politraumatizados que não tinham esperança de sobreviver, cada desafio foi superado com bravura. Num Pronto-Socorro que contou com apenas 95 leitos e uma demanda de 160% maior que sua capacidade física e humana, os corredores serviram muitas vezes de enfermarias, mas meta maior era, e continua sendo, atender a todos. Mesmo em condições atribuladas, a equipe medica está de plantão permanente. Para citar alguns números, em 2007, o SPS-HGV realizou 72.056 atendimentos, numa média mensal de 6.004 pacientes. Foram realizadas 5.752 cirurgias, sendo a maioria dos casos de alto risco.

 Com a abertura do HUT – Hospital de Urgências de Teresina - O serviço de pronto socorro do HGV, foi fechado. Porém Apesar de todas as adversidades e diante da tamanha relevância obtida por este Pronto Socorro junto àqueles a quem ele prestou serviço, é importante ventilar sua inestimável contribuição, sua história com aspectos positivos e negativos, e qual legado deixou.

Paiva A L C; Silva, I Z M e Andrade, F J C –– Teresina/PI

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

MEDICINA PRIMITIVA


 Medicina é uma palavra derivada de mederi (do latim) que significa: curar, cuidar, medicar. Desde o inicio da formação de espécies humanas há cerca de um milhão de anos o homem preocupou-se com cura de seus males. Podemos então dizer que a medicina existe desde os primeiros momentos que a espécie humana habita a terra. A doença é mais antiga que o homem e provavelmente existe desde que surgiu a vida no planeta. As bactérias habitam a terra há 3,8 bilhões de anos e estão entre os principais agentes etiológicos das doenças. Nosso mais antigo ancestral com evidências de doença óssea era um Homo erectus de 800.000 anos atrás.

O Estudo de sinais de enfermidades encontrados nos fósseis, múmias e outros objetos arqueológicos são conhecidos por Paleopatologia. O conhecimento obtido por estes estudos até o momento é bastante fragmentado, porém nos permite cegar a conclusões importantes. As lesões ósseas são as mais claramente expostas na peleopatologia: Exostoses, sinais de artrites, traumas, tumores a malformações congênitas podem ser observados em fosseis do homem que viveu no paleolítico. As múmias egípcias com cerca de 4.000 anos são as fontes mais ricas para estes estudos. Estão bem documentados lesões como tuberculose óssea (mal de Pott), mastoidites, doença de Paget dos ossos e pé torto congênito. Nas partes moles e vísceras tem sido possível identificar arteriosclerose, pneumonia, pleurites, cálculos renais, biliares, além de apendicites e lesões cutâneas semelhantes as da varíola e esquistossomose. Podemos inferir que as principais formas de enfermidades, não cada doença em particular, têm sido no geral as mesmas ao longo de milhões de anos.

Ao conjunto das crenças e práticas relacionadas á tentativa consciente do homem de combater as enfermidades chama-se de medicina primitiva e estudo dos vestígios destas ações médicas é chamado de Paleomedicina. Na falta de registros o estudo da medicina primitiva manteve-se em conjecturas, as evidencias são escassas e duvidosas dificultando a avaliação de como o homem do neolítico se tratava. Pesquisas de paleontologia e antropologia apontam para uma medicina ligada a práticas mágicas e sacerdotais, quanto ao emprego de drogas ou plantas medicinais é impossível responder. Porém, a partir do estudo de esqueletos, é possível afirmar que as fraturas foram reparadas por imobilizações, conservando o eixo dos ossos partidos ainda que com cavalgamento dos fragmentos, demonstrando a ausência da tração necessária para o alinhamento correto.

São ainda bastante intrigantes as trepanações. Por toda a Europa encontra-se crânios trepanados datados do neolítico. Descartada a hipóteses de lesões traumáticas, anomalias ou artefatos, persiste a dúvida sobre seu real significado: Um procedimento terapêutico? Uma operação por crenças no sobrenatural ou na magia, para dar saída a maus espíritos? – Observando sociedades primitivas atuais que praticam o procedimento, a resposta não tem ficado clara, pois o mesmo é praticado por uma ou outra razão.

O conhecimento desta medicina primitiva é obtido usualmente por análises de restos humanos muito antigos com alterações não naturais, esculturas e pinturas conservadas nos túmulos. E ainda por analogia com tribos atuais que estão culturalmente na idade da pedra, povos ainda em condições primitivas, porém não iguais aos próprios pré-históricos. Assim, os investigadores devem ser cautelosos em suas conclusões.

O que parece essencial nestes povos quanto à medicina, é a idéia da enfermidade como fenômeno sobrenatural por ação de demônios ou por castigo devido a uma falta, cometida pelo enfermo. Só assim se explicava a forma, geralmente brusca, de aparecer alterações dolorosas e limitantes em um ser que havia permanecido saudável, forte e em bom estado. O diagnóstico e tratamento eram em maior ou menor grau, conseqüentes a essa idéia da enfermidade como fenômeno sobrenatural, Era feito com elementos mágico-religiosos. Os primeiros praticantes da Medicina devem ter sido os feiticeiros-médicos que somadas às palavras mágicas, preces e encantos usaram uma simbologia especial para tratar seus pacientes. Algumas vezes por uma simples questão de sorte e azar estes procedimentos tinham êxito e quando isto acontecia, os homens encarregados de administrar medicina passavam à informação à seguinte geração de curadores ou sacerdotes.

Estes homens ou mulheres especiais que exerceram as funções de curadores, magos ou sacerdotes da medicina primitiva aprenderam a imobilizar uma fratura óssea, também, realizaram freqüentemente um tipo de cirurgia que chamamos trepanação (usando instrumentos de pedra) não se sabe ao certo se para espantar espíritos demoníacos, tratar fraturas ou remover fragmentos de osso. É possível que a trepanação fosse realizada em diferentes momentos por todas estas razões.

A Medicina Primitiva estava abalizada, do ponto de vista da terapêutica, num fortíssimo componente psicológico baseado em crenças e ritos mágicos, aliado ao emprego de plantas medicinais. De acordo com vários antropólogos, o emprego de plantas e substâncias de origem animal para fins curativos, data do Paleolítico ou idade da pedra lascada, o primeiro dos três grandes períodos em que se subdivide a idade da pedra. O uso das ervas como elementos curativos foi o inicio da medicina experimental e muitos medicamentos contemporâneos como o quinino foram passados a nos a partir dos costumes de nossos ancestrais pré- históricos.

 







Andrade, F J C –– Teresina/PI

 
 
Bibliografia
  
MARGOTTA, R. História Ilustrada da Medicina. São Paulo: Manole, 1998.
  
SOURNIA, J C. História da Medicina. Tradução de Jorge Domingues Nogueira. Porto Alegre: Instituto Piaget. 1992.
  
RIBEIRO JR, W A.   A Medicina Antiga até Hipócrates. Disponível em: (http://warj.med.br/pub/mini/medicina.asp.) Aceso em 09/03/2008.  

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

UMA INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA CIRURGIA NO PIAUÍ


Em todas as épocas e em todos os lugares existiram médicos. Doença ou saúde eram atribuídas à intervenção de seres sobrenaturais: deuses ou Deus, espíritos e ou demônios, salvos os casos de causas manifestas (uma hemorragia em conseqüência de um ferimento ou da mordida de uma fera; uma fratura causada por acidente ou pela agressão de um inimigo). Assim a cirurgia[1] talvez seja a primeira prática médica que o homem exerceu espontaneamente, ao tratar os ferimentos produzidos na caça e na guerra. Trechos do código de Hamurabi (século XVIII a.C.), do papiro "cirúrgico" de Edwin Smith (1700/1600 a.C.) e do livro de Susruta (século IX a.C.) relatam ferimentos, instrumentos e procedimentos cirúrgicos.
Num segundo momento já na Idade Média, a medicina cresceu ligada à Igreja, sendo fortemente influenciada pelas convicções religiosas, os monges assumiram a arte de curar com medicamentos e orações, as práticas cirúrgicas como lancetar abscessos e retirar pequenas imperfeições da pele, foram deixadas para os barbeiros, que já lidavam com instrumentos afiados como a navalha. Há um divórcio entre a cirurgia e a medicina, os cirurgiões já não são médicos; sacerdotes não poderiam tocar em sangue ou serem culpados pela morte de um homem de acordo com as crenças cristãs da época (BOTELHO, 2004). O cirurgião adquire maior status no período Renascentista, ainda que os médicos clínicos estivessem em uma posição hierárquica superior até por volta do século XVIII quando novamente só os médicos poderiam exercer a cirurgia.
A arte da cirurgia recebe impulsos científicos e culturais nos séculos XVI e XVII com o melhor conhecimento a da anatomia, com o aumento da variedade e gravidade das lesões produzidas nas guerras, que nesta época já contavam com as armas de fogo. Porém os procedimentos ainda eram limitados, pois os cirurgiões ainda não possuíam conhecimentos ou meios adequados para controlar a dor e a hemorragia, nem para combater a infecção. A medicina no Brasil colônia foi em grande parte realizada por boticários e cirurgiões–barbeiros[2] que popularizaram os remédios dos curandeiros indígenas e africanos. Raros lugares contavam com um médico ou cirurgião formado. Em 1746, havia apenas seis médicos formados na Europa nas regiões que hoje formam os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. A medicina praticada no Brasil passaria por grandes mudanças a partir de 1808 com a transferência, forçada, da corte portuguesa para a sua grande colônia americana. Foram criadas as primeiras escolas médico-cirúrgicas do Brasil primeiro na Bahia e logo depois no Rio de Janeiro (NAVA, 2004). É neste cenário que se iniciará a medicina pré-científica[3] na Capitania do Piauí, com a chegada a Oeiras, em 1803, de um Cirurgião-Mor da armada portuguesa: José Luis da Silva, que aprendeu medicina no Hospital Real de São José, de Lisboa, e, por fim abraçou a cirurgia, tendo sido nomeado para o cargo de 1º Cirurgião da Armada em 1800. Estava vencida a fase do empirismo absoluto, ficaram para trás os pagés, os jesuítas, os barbeiros e os curandeiros. Podemos classificar de privilegiada a situação médica da capital do Piauí no inicio do século XIX (CARVALHO JR, 2003).
A prática cirúrgica no Piauí tem o inicio com a passagem por nossas terras do médico naturalista inglês George Gardner em 1836, que em seu livro Viagem ao interior do Brasil(1846) narra procedimentos cirúrgicos, como as operações de catarata e litotomia[4] realizadas em Oeiras, que eram,  bastante avançados para a época, a anestesia ainda não havia sido descoberta. Somente 10 anos mais tarde, em 16 de outubro de 1846, seria realizada a primeira cirurgia sob anestesia, nos Estados Unidos da América (SOURNIA, 1992).
Com os progressos da ciência e da medicina ocorridos no século XIX e a transferência da capital da província para Teresina em 1852, a medicina e a cirurgia no Piauí também realizam seus avanços, acompanhando o desenvolvimento mundial com a realização de operações cada vez mais complexas como as primeiras operações Cesarianas, no inicio da década de 30 e a primeira Colecistectomia[5] realizada em 1933, pelo Dr. Rocha Furtado que mais tarde seria Governador do estado. Mas, é em 1941, que a medicina e cirurgia no Piauí têm seu maior impulso com a inauguração do Hospital Getúlio Vargas, grande e moderno hospital, reflexo do ideário da revolução francesa que inspirou os princípios dos direitos sociais colocando a saúde como um dever do estado e direito do cidadão. Na cirurgia destaca-se o Dr. Rocha Furtado, chefe da clinica cirúrgica e, pioneiro em diversas operações. Foi ainda criado o NEC (núcleo de estudos cirúrgicos), grupo de estudos, para manter atualizados os cirurgiões e que inclusive detinha assinatura de várias revistas estrangeiras como Lance;, The American Journal of Obstetric and Gynecology e Surgery, Gynecology and Obstetric (SGO) entre outras, além de várias revistas nacionais(FURTADO, 1990).
Mais tarde, em 1965, com o lançamento do desfio para a criação de uma Faculdade de Medicina do Piauí que funcionasse atrelada ao HGV, o Dr. Zenon Rocha foi nomeado presidente da comissão instituidora da faculdade, o funcionamento desta iniciou-se em Janeiro de 1968 tendo como seu primeiro diretor e professor de cirurgia o próprio Dr. Zenon Rocha, esmerado cirurgião, seguro nos conhecimentos anatômicos e, perfeccionista nos atos.
A cirurgia no Piauí cresceu sob a tutela de seus cirurgiões, atualizados nos avanços tecnológicos e criadores de inovações; culminando nas operações por vídeo laparoscopia. As primeiras operações deste tipo foram realizadas no Piauí em 1993 apenas 3 anos após operação pioneira no Brasil (1990) e poucos anos após as primeiras operações com esta técnica surgirem no mundo.
Estes entre outros fatos tornam o estudo da história da cirurgia no Piauí um campo fascinante. Se por um lado temos poucos dados sobre esta área do conhecimento, chegando a inexistir textos específicos, há livros que tratam da história da medicina no Piauí e que trazem informações que despertam o interesse para um estudo mais aprofundado sobre o tema.







Andrade, F J C –– Teresina/PI


  Bibliografia

BOTELHO, JOÃO BOSCO. História da Medicina - Da Abstração a Materialidade. Manaus: Editora Valer. 2004.

CARVALHO JUNIOR, DAGOBERTO F. A Obstetrícia No Piauí: Subsídios Para Sua História. Teresina. 1998.

FURTADO, JOSÉ DA ROCHA. Memórias e Depoimentos.  Teresina: Edição Academia Piauiense de Letras e Governo do Estado do Piauí. 1990.

GARDNER, GEORGE. Viagem ao Interior do Brasil -  Principalmente nas províncias do norte e nos distritos do ouro e do diamante durante os anos 1836/41. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Itatiaia Editora. 1975. 

GONÇALVES, WILDSON C. Dicionário Enciclopédico Piauiense Ilustrado. Teresina: Halley S.A. 2003. 

NAVA, PEDRO. Capítulos da História da Medicina no Brasil. São Paulo: Ateliê Editorial. 2004. 

RAMOS, FRANCISCO FERREIRA. Memorial do Hospital Getúlio Vargascontexto histórico-político-econômico-sócil-cultural 1500-2000. Teresina: Gráfica do Povo. 2003. 

REZENDE, JOFRE M. Linguagem Médica. 3ª edição. Goiânia: AB. 2004. 

SANTOS, LUIS AIRTON (organizador). História da Medicina no Piauí. Teresina: Edição Academia de Medicina do Piauí. 2003. 

SOURNIA, JEAN CHARLES. História da Medicina. Tradução de Jorge Domingues Nogueira. Porto Alegre: Instituto Piaget. 1992.

 


[1]Joffre M. de Rezende - Linguagem Médica
Define cirurgia como o ramo da medicina que se dedica ao tratamento das doenças, lesões, ou deformidades, por processos manuais denominados operações ou intervenções cirúrgicas.                                                                                                                           
[2] Boticários – precursores dos farmacêuticos. Cirurgiões-barbeiros – os barbeiros por terem habilidade com instrumentos afiados, realizavam pequenas intervenções cirúrgicas.
[3] A medicina no Brasil só tornou-se verdadeiramente científica, com Osvaldo Cruz no inicio do séc. XX
[4] Operação de catarata consistia na abertura do olho para remoção do cristalino opacificado. Litotomia – operação para retirada de cálculos da bexiga, através de uma incisão na região do períneo.
[5] Colecistectomia – operação para retirada da vesícula biliar

domingo, 22 de janeiro de 2012

O SÍMBOLO DA PRESCRIÇÃO MÉDICA


Os símbolos têm funcionado como linguagem universal, a qual se estabeleceu muito antes de todos os códigos próprios de cada idioma, têm sido como um instrumento, isto é, como chave secreta, para desvendar conceitos antigos do pensamento humano. Um símbolo representa ou oculta a imagem do que não se vê no momento, mas a ele está relacionado. Um símbolo nos remete a pensar em alguma coisa por ele implicada.

Entre outras acepções, para o lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda, o vocábulo símbolo, derivado do grego symbolon significa: Aquilo que, por um princípio de analogia, representa ou substitui outra coisa; aquilo que tem valor evocativo, mágico ou místico; ou idéia consciente que representa e encerra a significação de outra inconsciente.

Como já colocamos, os símbolos podem ser entendidos como a mais antiga linguagem da humanidade. A medicina, como ciência antiga que é, traz em si muitos símbolos entranhados, cujo conhecimento é meritório para todos os profissionais de saúde, não obstante muitos desconheçam seus significados ou não os identifiquem adequadamente. Inúmeras vezes, deparamos-nos com diversos ícones ou sinais em nossa prática médica e, freqüentemente, os utilizamos, mas sabemos pouco sobre seu significado, sua origem e evolução. Por essa razão, motivamo-nos a adentrar na investigação e estudo deste símbolo bastante usado por praticamente todos os profissionais de saúde, no momento de exarar suas receitas médicas, para a prescrição de medicamentos aos seus pacientes.

Compreendendo que os símbolos representam uma linguagem perdida, em que estão fossilizados pensamentos e emoções de valor universal, realizamos, com muito prazer e interesse científico cultural, um estudo, tentado entender sua origem antropológica. Ainda que tenhamos encontrado dificuldades, devido à escassa bibliografia e à insuficiente divulgação do tema, procuramos estudar a sua evolução, no intuito de trazer alguma contribuição adicional, para os estudiosos da medicina ou para aqueles que possuem interesse pelo tema.

O símbolo usado pelos médicos no início de sua prescrição, o “R” cortado, não é um simples “R” e “X”, é um símbolo que não existe no nosso alfabeto, constitui-se de um “R” itálico, com uma perna maior, com a linha do “x” cortando-a (fig.1).

 
Fig - 1


Como a própria medicina, os símbolos médicos têm origem muito remota, por isso são bastante arcaicos, e reaparecem do modo mais inesperado, sendo várias as explicações para sua origem e significado. Segundo a mitologia, os deuses além de causar doenças e morte, também curavam os males e saravam as feridas. Tanto na Grécia antiga, quanto no Egito, a medicina religiosa estabeleceu-se muito firmemente.

Quase todas as Divindades egípcias estão associadas a alguma situação de saúde ou a enfermidades. O símbolo do olho de Horus, representado na iconografia egípcia como um “R” com um olho em seu circulo superior (fig. 2), evoluiu de forma intrincada, e é bastante provável que possa ter originado o sinal romano que representava o deus Júpiter. Esta marca, cujas duas formas principais (fig. 3) representam em seu aspecto geral algo parecido com a cifra de um “4”, pode ser vista em alguns lugares como um indicador de saúde e bons presságios.
                                         


Fig - 3


 
Fig - 2 

O símbolo do olho de Hórus, do deus egípcio, surgiu há 5000 anos. Foi estilizado e era usado pelos médicos egípcios, significando saúde e felicidade. E precedeu a Imhotep, médico e conselheiro de Zoser, na terceira dinastia.

Horus era o deus falcão do alto Egito. Tratava-se de uma divindade de forma muito complexa e, por essa razão, vários cultos eram a ele atribuídos. Em uma das lendas, Horus, para vingar o assassinato de seu pai Osíris, luta contra o malvado Seth, o tio criminoso, máximo causador das doenças humanas. Na contenda, Horus perde um olho, recobrando-se depois, quando sua mãe Isis invocou a ajuda de Toth, o deus da Saúde e da Sabedoria que, em reconhecimento da devoção filial de Horus, restituiu-lhe o olho. Desde então, os egípcios imploram ao deus Horus que cure seus males. Sua marca se converteu assim em um símbolo de proteção e cura.

Olho de Horus ou Olho Sagrado é, portanto, um símbolo mitológico do Egito antigo que significa proteção, restabelecimento da saúde, da intuição e da visão. O olho esquerdo de Horus é representado pela letra R, estilizada, escrita no início de toda receita médica. Ao fazer o R na receita, o médico invoca a proteção e a inspiração divina para aquela prescrição.

O poeta Homero (850 a.C.) acreditava que os egípcios eram habilidosos médicos e influenciaram os médicos gregos que adotaram seu sinal, o olho de Horus, tornando-o como o signo de Apolo. A doença na Grécia antiga podia ser tratada por deuses e semideuses que praticavam a arte de curar. O deus solar Apolo era inicialmente o mais importante para a saúde e a medicina, porém foi, de certa forma, eclipsado por seu filho Asclépio que, muito hábil na ciência médica, transformou-se de um herói de culto menor a um deus maior. Asclépio foi tão grande na arte de curar que, por temor de que ele pudesse ressuscitar os mortos e, desta forma alterar a ordem do mundo, foi fulminado por um raio de Zeus (Júpiter).   

Os Médicos gregos escravizados trouxeram o símbolo para Roma que, nos tempos de Nero (37- 68 a.C.), foi atribuído a Júpiter, deus supremo da mitologia romana, para indicar graficamente que o médico estava submetido ao poder do estado.

É certo que o sinal de Júpiter também está relacionado com a idéia de habilidade e competência. Sua grafia semelhante a um “4” (fig. 3) pode ser a representação gráfica do ziguezague de um raio, ou mesmo da letra “Z”, inicial do nome de Zeus. O símbolo de Júpiter, instituído pelo médico Krinas, do tempo de Nero, segundo algumas versões, pode ainda ser entendido como sinal de uma invocação inspiradora da divindade Romana, querendo, dessa forma, consagrar este sinal como o símbolo da subjugação do médico ao Estado.

Na Idade Média, a representação do olho de Horus, amalgamado com o sinal de Júpiter, aparece como um símbolo, assemelhado com um “4” (fig. 4) ou um “Rx” (fig. 5). É usado em receitas de médicos e alquimistas, para invocar ajuda divina, numa prece para que o tratamento seja efetivo, revivendo os costumes antigos de utilizar o signo de uma divindade para este fim, tanto que nos manuscritos médicos antigos toda letra “R” era cortada.


Fig - 4
Fig - 5

                                           
A Igreja Católica, em sua ávida luta contra o paganismo, até em seus mínimos detalhes, corroborou para cristianizar o símbolo e obrigou os médicos a usar “RR”, proclamando ser uma invocação ao anjo Rafael e seu óbice Responsum Raphaelis. No lugar do sinal pagão de Júpiter, passa a ter lugar um prenúncio cristão, as iniciais do arcanjo Rafael, cujo nome significava “medicina de Deus”. Contudo, mais tarde, os alquimistas retornaram ao símbolo grego original, e os médicos ainda hoje o usam no ângulo superior esquerdo de suas receitas.

Na idade da razão, parece mais verossímil que o símbolo seja racionalizado. Diz-se, portanto, que a letra “R” é a inicial da palavra recipe (do latim) forma imperativa de recipere, que significa: “receba esta prescrição, ou tome estes princípios ativos”. Em épocas nas quais os médicos precisavam prescrever a fórmula do medicamento, misturando e compondo seus ingredientes, a abreviação “Rx” poderia ser atinada por uma afirmação como fiat mistura que significa “que a mistura seja feita”.

Para concluir, podemos dizer que há um emaranhado de teorias na origem e no significado do “R” estilizado que costumamos colocar em nossas receitas médicas. Nos dias atuais, poderíamos traduzi-lo de acordo com o “The Dictionary of Phrase and Fable by E. Cobham Brewer from the new and enlarged edition of 1894” na seguinte forma: "Sob os bons auspícios de Deus, o patrono das medicinas, tome os seguintes remédios nas proporções mencionadas".

Os símbolos são como um código secreto da humanidade, que encobrem um significado muito mais amplo, indo além de sua acepção “convencional” ou “acidental”. Representam um valor emblemático. Hoje, concorrem para compor o “R”, símbolo da prescrição médica, o pictograma do olho de Hórus, mesclado com o signo de Júpiter e com as insígnias católicas e as iniciais de palavras latinas.




Referências Bibliográficas:

  1. AMATO Alexandre. História da prescrição médica. Disponível em: Cultura & Saúde Virtual. <http://www.culturaesaude.med.br/revista/>. 27/02/2006. 
  2. As mais belas lendas da mitologia / tradução Mônica Stahel – São Paulo, Martins Fontes, 2000. 
  3. BEZERRA, Armando J. C. Admirável Mundo Médico. Brasília, CRM-DF, 2002. 
  4. DE HOLANDA Ferreira AB. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2ª ed., 1986. 
  5. LUGONES Botell M. y Quintana Riverón T -  Los símbolos y la medicina. Rev. Cubana Med Gen Integr. 1998; 14(3):295-296. 
  6. O'SHEA Robert F. Símbolo da Prescrição. Disponível em: <www.sobravime.org.br/simbol_01>. 27/02/2006. 
  7. PRATES Paulo - Do Bastão de Esculápio ao caduceu de Mercúrio. Revista AMRIGS, Porto Alegre, 44 (1,2): 79-80, jan. - jun. 2000. 
  8. REZENDE JM. O símbolo da medicina: tradição e heresia. Disponível em: <http://www.usuários.cultura.com.br/jmrezende,>. 12/03/2006.
* Artigo publicado na revista da FACIME – vol. 3 - 2007

Andrade, F J C –– Teresina/PI