RESUMO:
Os autores apresentam reflexões sobre a cor verde e sua relação
com a medicina. São abordados vários comentários para escolha desta cor como
símbolo da medicina: das origens mitológicas, onde alude o mito de Perséfone,
as aventuras amorosas de Apolo, e a Asclépio o deus da medicina. Menciona os
aspectos psicológicos que as cores pode ter sobre médicos e pacientes; também
aspectos mais práticos como reflexos de luz em ambientes médicos e teoria de
cores complementares.
Foram considerados ainda aspectos
históricos e religiosos sobre uso desta cor e das esmeraldas na simbologia
médica, além do uso de outras cores por profissionais da saúde, procurando
elucidar as razões de a cor verde ter se tornado um importante símbolo da medicina moderna.
PALAVRAS-CHAVE: Verde;
Esmeralda; Símbolos; Medicina; Cor
ABSTRACT: The authors present reflections on the green color
and its relationship to medicine. Several
comments are made for choice of this color like symbol of the medicine: of the
mythological origins, where alludes the
myth of Perséfone, the loving adventures of Apolo, and yet the god of the
medicine, Asclépio. It mentions the psychological aspects that colors can have on doctors
and patients; also more practical aspects as
reflexes of light in medical environments and theory of complementary colors.
Were considered still, historical and religious aspects on use of this color
and of the emeralds in medical symbology, beyond the
use of other colors for professionals of health, looking for
to elucidate the reasons of the green color
has become an important symbol of modern medicine.
KEYWORDS: Green; Emerald; Symbols; Medicine, Color
INTRODUÇÃO
O verde
notado em muitos produtos médicos e nas roupas de cirurgiões é sem dúvida a cor
que melhor simboliza a medicina. Presente ainda em várias representações da
medicina, na analogia da cura com as plantas e a natureza, na pedra que
simboliza a profissão e em aspectos religiosos e mitológicos que cercam a
prática médica (REZENDE, 2009). O verde é tranqüilizante e confortante, sensações que instintivamente buscamos após passar por um trauma; é a cor da esperança. Como a esmeralda, o verde é um símbolo da saúde e da
vida (MANFRED, 2003).
VERDE, ESMERALDAS E
MEDICINA
A cor que simboliza a medicina ocidental é o verde. Entre os efeitos
psicológicos das cores, parece promover alívio e serenidade, dois estados, sem
duvida, desejados por médicos e pacientes.
O verde é uma cor tranqüilizante, confortante e humana. É a cor que buscamos
instintivamente quando estamos deprimidos ou após passar por um trauma. Institui
um sentimento de alívio, relaxamento, de paz interior, que nos faz sentir equilibrado.
É a cor da esperança, da força, da longevidade, da imortalidade universalmente
simbolizada pelos ramos verdes (MANFRED, 2003).
Na mitologia, Deméter é uma suprema divindade da terra, deusa da
agricultura e dos cereais, era a responsável pela sobrevivência de todos os
povos da antiguidade. Os ciclos naturais – semear, brotar e colher – estão
relacionados com o mito da filha de Demeter (BARTLETT, 2011).
Perséfone era a beleza personificada e alegrava a humanidade, que vivia então
em tempos de fartura. Era um dia majestoso, as ninfas brincavam nos campos
floridos, quando a garota viu uma flor maravilhosa, um narciso como ela nunca vira antes e quando se afastou para
recolhê-lo; de repente a terra abriu e ela sentiu-se agarrada (STAHEL,
2000). Em vão Perséfone resistiu e gritou... E quando a
terra se fechou sobre eles, ninguém mais ouviu as lágrimas e gemidos da jovem.
Apenas Deméter escutava um lamento distante, no qual reconhecia ao eco da voz
da filha (HAMILTON, 1999).
Deméter percorre o mundo em busca da filha, durante nove dias e nove
noites sem nada encontrar. Até que Hélios, deus sol, a quem nada escapa do que
ocorre sobre a terra, desfaz o mistério e tenta consolá-la (HAMILTON, 1999). Perséfone
havia sido raptada, tornara-se a esposa de Hades e rainha do reino dos mortos!
Deméter, em seu sofrimento, negou à Terra todas as dádivas que lhe
concedia. A Terra verdejante e
florescente transformou-se em um deserto gelado e sem vida devido ao desaparecimento
de Perséfone. A raça humana estava condenada a morrer de fome. Zeus então
intermediou um trato com Hades: Perséfone passaria metade do ano com a mãe e
outra metade com o marido no mundo inferior (HAMILTON, 1999). Assim, com a
chegada de Perséfone aparece na terra a primavera, com os primeiros brotos dos
campos e o verde.
Depois de o inverno provar ao homem sua solidão e precariedade,
desnudando e gelando a terra que ele habita, esta se reveste de um novo manto
verde, com a chegada da primavera, que traz de volta a esperança. O verde é o despertar da vida.
O loureiro arvore de folhas verdes e brilhantes, com
as quais eram confeccionadas as coroas dos vencedores dos Jogos atléticos era a
planta sagrada do deus Apolo; o curandeiro, o primeiro a ensinar aos homens a arte da cura. Deus da medicina e também semeador de
pragas. Este mito conta-nos sobre uma das muitas paixões com desfecho trágico dessa
divindade. Segundo Ovídio, Eros, o deus do amor, flechara Apolo com uma seta de
amor e, a Dafne, com a seta da indiferença; e por mais que Apolo buscasse o
amor de Dafne, ela o repulsava. Perseguida implacavelmente por Apolo e quando
este estava próximo de alcançá-la, implora ajuda a seu pai o deus-rio, que a
transforma no loureiro. Apolo abraçou-se a planta e declarou então
que o loureiro seria sua árvore sagrada (BULFINCH, 2002; STAHEL,
2000).
Asclépio,
o deus da medicina, é o filho mais famoso de Apolo. Fruto de mais um amor não
correspondido. Uma jovem de rara beleza chamada Corônis após curto
relacionamento com o deus, apaixona-se por um simples mortal. Sentindo-se
traído quando o corvo lhe conta sobre Corônis e Ísquis, Apolo pede vingança a
sua irmã Ártemis, que atinge Corônis com uma de suas flechas mortais para as
mulheres. Quando o fogo da pira funerária começava a queimar o corpo da jovem,
Apolo resgatou seu filho, que Corônis trazia no ventre e levou-o para ser
educado pelo centauro Quíron. Asclépio foi o discípulo ao qual o centauro mais
se afeiçoa e, o que mais aprendeu sobre a arte de curar. Quíron era versado no
uso de ervas e porções mágicas. Asclépio torna-se capaz de encontrar remédios
para todas as doenças; libertava dos tormentos a todos que o procuravam, até
mesmo aqueles que estavam à beira da morte (BULFINCH, 2002; HAMILTON, 1999; SOURNIA, 1992).
Contudo, o grande médico que livrava a muitos do
Hades, atraiu sobre si a fúria dos deuses. Zeus não permitiria tanto poder a um
mortal, que parecia capaz de impedir a morte e matou-o com seu raio fulminante
(BULFINCH,
2002). Posteriormente Asclépio teria sido recebido no
Olimpo para aplacar a ira de Apolo. O culto a Asclépio
disseminou-se, sendo homenageado com inúmeros templos e santuários, que atuavam
como locais de cura. A sua imagem permaneceu viva e é um símbolo presente até
hoje na cultura ocidental (HAMILTON, 1999; SOURNIA, 1992).
No emblema de Asclépio (símbolo da medicina): A cor verde
significa a vida vegetal, a juventude e a saúde. O bastão significa os segredos da
vida eterna, poder de ressurreição, o auxílio e suporte da assistência dada
pelo médico aos seus pacientes. Sua origem vegetal representa as forças da
natureza e as virtudes curativas das plantas (REZENDE, 2009).
Hipócrates,
médico grego, considerado o Pai da
Medicina, formou no santuário de Asclépio em
Cós e assimilou esta tradição médica. Acredita-se que ele mesmo era descendente
dos Asclepíades, uma linhagem de sacerdotes-médicos que se dizia derivada da
progênie do próprio deus. Vários aspectos da sua doutrina se basearam no
folclore religioso que cercava o culto de Asclépio, apesar disto a medicina
hipocrática desenvolveu-se em uma linha mais científica e empírica.
À sombra de uma arvore (Platano orientalis), no centro da ilha de Cós, segundo a tradição,
Hipócrates reunia-se com seus discípulos e fazia suas preleções ensinando
medicina. Este Plátano ficou
conhecido como a árvore de Hipócrates.
Assinalando o local de nascimento da medicina racional e científica que sucedeu
à medicina mágica e sacerdotal dos povos primitivos (REZENDE, 2009).
As folhas verdes do plátano de Hipócrates se
renovam a cada primavera, assim como seus herdeiros se renovam a cada geração
de médicos, na qual os ideais continuam vivos, a indicar os valores perenes da
medicina: a busca da verdade, o respeito à vida, o amor à arte médica, a
solidariedade humana, o desejo de servir, a conduta digna, o interesse sincero
pelos que sofrem (REZENDE, 2009).
No início da Idade Média a toga dos médicos era
verde por usarem plantas medicinais, mas com a epidemia da peste negra
(bubônica), os médicos usavam aventais, luvas, máscara e chapéu, porém tudo de
cor escura. Estes tons escuros como o preto podia ser um sinal de classe mais
elevada e também disfarçava as manchas de sangue e pus que se acumulavam nas
roupas. Posteriormente com uso de tons mais claros como cinza, as manchas
ganhariam um fator de credibilidade, ou seja, o médico com o avental mais
manchado era mais respeitado, tinha mais experiência por haver tratado muitos
pacientes. Nada se sabia sobre micróbios e transmissão de doenças (MARGOTTA, 1998; SOURNIA, 1992).
Com o advento das medidas de anti-sepsia e assepsia,
com a descoberta dos agentes microbianos, os médicos passaram a usar branco,
para demonstrar higiene e limpeza. Na verdade a cor branca é usada por médicos
desde a antiga Grécia, quando os sacerdotes do templo de Asclépio se vestiam
com roupas (túnicas) brancas para indicar a pureza espiritual. A cor branca em
medicina trás o simbolismo da pureza e honradez do ser e atuar como médico (SOURNIA, 1992).
O verde, porém, está sempre presente no mundo da
medicina; de acordo com a tradição hindu, a profissão médica é regida pelo
planeta mercúrio e a esmeralda é a pedra deste planeta. Também a medicina
oriental relaciona a cor verde e a esmeralda ao meridiano do coração, órgão
pulsante que mantém a vida. Os Egípcios associavam as esmeraldas à fertilidade
a ao renascimento. O imperador romano Júlio Cesar, acreditava que a esmeralda
podia ser um fator protetor contra seus ataques de epilepsia. Na idade média as
esmeraldas foram utilizadas como antídoto para venenos, para curar feridas, e
ainda conta possessões demoníacas. Na tradição alquímica era esta pedra verde,
era considerada uma insígnia de Hermes Trismegisto e representativa do conhecimento
secreto. Simboliza uma fonte de força e vida nova, além de possuir um caráter
de imortalidade (REED, 2013).
Os
poderes terapêuticos da esmeralda começam por sua cor verde, que possui
propriedades calmantes e é apontada entre todas as cores como a que mais
sensibiliza o olhar. A pedra é
considerada uma aliada contra doenças. Rejuvenesce, equilibra a cura,
estabiliza a personalidade, melhora a meditação e suaviza temores escondidos
dentro do homem.
O
arcanjo Rafael, conhecido como aquele que foi enviado por Deus para curar, cujo
nome significa "Deus cura", novamente confirma que a esmeralda, com
sua bela cor verde, é a pedra que simboliza a medicina. É esta pedra que
representa o arcanjo Rafael, conhecido como o médico celestial. Por este e outros tantos motivos, os formandos na
área de saúde costumam ganhar anéis com essa gema verde (REED, 2013).
Foi no
início do século XX, que um cirurgião americano incomodado com o brilho demasiado
dos brancos tradicionais no ambiente cirúrgico, que chegavam a reduzir a
capacidade de discriminar características anatômicas nos campos operatórios; usando
a teoria da cor, desenvolveu um ambiente cirúrgico verde como complemento de
cor para o vermelho da hemoglobina. Observou ainda a possibilidade de descansar
os olhos, sem competir com luz estranha
e brilhos excessivos. Na mesma época a “Cromoterapia” também entrou na cultura
hospitalar, com a defesa de idéias sobre a natureza negativa do branco (ausência
de cor) e a necessidade do uso de cores positivas e relaxantes como verdes e
tons azulados. Assim, o verde tornou-se um importante símbolo do hospital
moderno (PANTALONY, 2009).
Em 2010
o Museu de Ciência e Tecnologia do Canadá, em Ottawa, fez uma exposição
intitulada: A cor da Medicina, em que
expôs artefatos médicos, destacando a utilização da cor verde, buscando
resgatar um pouco desta dimensão da história médica.
De
Apolo aos nossos dias, o verde e as esmeraldas, são signos intimamente relacionados
à medicina, a saúde e a vida.
REFRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARTLETT, Sarah. A Bíblia da Mitologia. São Paulo: Pensamento, 2011.
BULFINCH, Thomas. O livro de Ouro da Mitologia (a idade da
fábula): Histórias de Deuses e Heróis.
Rio de janeiro: Ediouro, 2002.
DE HOLANDA, Ferreira
Aurélio Buarque. Novo Dicionário da
Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
HAMILTON, Edith. (1999), Mitologia. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
MANFRED,
Lurker. Dicionário de Simbologia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
MARGOTTA, Roberto. História
Ilustrada da Medicina. São Paulo: Manole 1998.
PANTALONY, David. The colour of medicine. Canadian Medical Association Journal, Ottawa, v.181, n. 6-7, p. 402–403, Sep 2009.
REED, Lawrence Reyes. Esmeralda: Gema de La profesión
médica. GALENUS - Revista para los médicos de Puerto
Rico, San Juan, v. 43, n. 7, p.74, Jul
2013.
REZENDE, Joffre
Marcondes. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina. São Paulo: Editora Unifesp, 2009.
SOURNIA, Jean-Charles. História
da Medicina. Porto Alegre:
Instituto Piaget, 1992.
STAHEL,
Monica. As Mais Belas Lendas da Mitologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Andrade, F J C ; Carvalho F V; Andrade V C B –– Teresina/PI
* Artigo publicado nos ANAIS do CRM-PI – vol. 17- Nº 1 / 2015
Andrade, F J C ; Carvalho F V; Andrade V C B –– Teresina/PI
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